Água e guerra

O recente debate, entre as autoridades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, sobre o uso de recursos hídricos da Bacia do Rio Paraíba do Sul para abastecimento do sistema Cantareira, revela a urgente necessidade de uma discussão profunda sobre o uso sustentável da água.

A disputa pela disponibilidade hídrica no planeta corre sérios riscos de ser a fonte de grandes conflitos neste século 21.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já apontou em estudo o crescimento de 55% da demanda mundial por água até 2050 diante de mais 2 bilhões de pessoas no planeta. O desenvolvimento econômico e social dos países podem ficar seriamente comprometidos com a possibilidade de estresse hídrico constante. A pesquisa da OCDE revela ainda que 240 milhões de pessoas no mundo não terão acesso a água potável e 1,4 bilhão não contarão com serviço de saneamento básico em 2050.

No Brasil, as disputas por recursos hídricos atingiram recorde histórico em 2013 conforme recente pesquisa da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O estudo registrou aumento de 17% no número de disputa em relação a 2012. No período anterior, 2012 comparado com 2011, o aumento foi de 16%. Os conflitos vem sendo monitorados desde 2002 pelo órgão ligado à Igreja Católica. O estado da Bahia lidera o ranking de disputas, com 21 conflitos, seguido pelo Rio de Janeiro, com sete disputas.

A briga pela água é reflexo da crescente preocupação de preservação ambiental, além da necessidade de garantir o recurso para desenvolvimento social e econômico das comunidades. Essas disputas têm muitas variantes e passam desde a apropriação de recursos hídricos por empresas até conflitos contra a investida governamental de construir hidrelétricas na região amazônica, por exemplo.

Nas regiões metropolitanas, os conflitos sociais por água ainda não floresceram, mas o atual estresse hídrico na Região Metropolitana de São Paulo indica que medidas urgentes precisam ser tomadas. Uma delas, é reduzir o desperdício de água. Uma tarefa a ser cumprida tanto pela população como para as concessionárias e demais empresas do setor de abastecimento e tratamento de água. No Brasil, 40,7% da água tratada é perdida antes de chegar à casa do cidadão. A média paulista é de 24,7%, mas ainda distante de países desenvolvidos como a Alemanha (11%) e EUA (16%).

Estamos em frente a grandes desafios para garantir o abastecimento de água para grandes populações nos próximos anos. A hora é agora. Caso contrário, os conflitos serão ampliados, trazendo prejuízos a todos.

pladevall(*) Luiz Roberto Gravina Pladevall é presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs) e membro da Diretoria da ABES-SP.